O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu endurecer as críticas contra o Estado de Israel. Além de responsabilizar o país pela demora na liberação de brasileiros na Faixa de Gaza, o petista afirmou, nesta segunda-feira (13), que a solução que o governo israelense tem dado para o conflito é “grave”, com a morte de inocentes “sem critérios”, uma vez que há bombardeios em locais onde há crianças e mulheres. 

“Nessa guerra, depois do ato provocado, e eu digo ato de terrorismo que o Hamas provocou, as consequências, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério. Joga bomba onde tem hospital, onde tem criança a pretexto de que lá tem terrorista, não tem explicação. Primeiro, vamos salvar as crianças, as mulheres, e depois fazer a briga com quem quiser fazer”, declarou. 

Ainda segundo ele, a liberação do grupo de 32 pessoas que estava na região do conflito foi feita com “muito sacrifício” porque dependia da “boa vontade de Israel”. “Hoje é um dia muito feliz para nós brasileiros. Nós conseguimos resgatar as 32 pessoas que estavam na Faixa de Gaza. (…) Nós estamos trazendo o que foi possível liberar, com muito sacrifício, porque dependia da boa vontade de Israel”, disse Lula durante discurso no Palácio do Planalto, para sanção da nova Lei de Cotas.

Está prevista, para a noite desta segunda-feira, a chegada do grupo de brasileiros e familiares que estava na região de Gaza desde o início da guerra, em 7 de setembro. O presidente irá até à Base Aérea de Brasília para receber os repatriados. Ele deve receber o grupo acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, e de ministros. Uma força-tarefa será mobilizada no Aeroporto de Brasília, onde haverá estrutura de acolhimento.

Lula ainda deu indicativos de que a operação Voltando em Paz, do Ministério das Relações Exteriores e da Força Aérea Brasileira (FAB), que têm resgatado brasileiros da região onde ocorre o conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas, pode ter continuidade se mais cidadãos com cidadania brasileira demonstrarem interesse na repatriação. Segundo o presidente, “nenhum brasileiro ficará para trás”. 

    “Finalmente, conseguimos trazer as 32 pessoas (que estavam na Faixa de Gaza). Agora, vamos ver se ainda tem gente na Cisjordânia que queira vir porque nós não vamos deixar nenhum brasileiro ou brasileira lá, se ele quiser voltar. Nós vamos ter que encontrar soluções para trazer. Hoje é um dia de festa, sobretudo como resultado de uma guerra em que eu nunca tinha sabido de notícias de que crianças fossem vítimas preferenciais de uma guerra”.  

    Que horas o voo dos brasileiros que deixaram Gaza chega ao Brasil? 

    O grupo de 32 pessoas que deixou a Faixa de Gaza no domingo (12) com apoio do governo brasileiro embarcou em um voo para o Brasil na manhã desta segunda-feira (13). A aeronave VC-2, cedida pela Presidência da República, decolou do Cairo, no Egito, às 11h52 (horário local; 6h52, horário de Brasília). O pouso em Brasília está previsto para às 23h50 (horário local). 

    Antes do desembarque na capital brasileira, o avião fará escalas em Roma (Itália), Las Palmas (Espanha) e na base aérea do Recife (PE). A lista original contava com 34 nomes, mas duas pessoas – mãe e filha brasileiras – decidiram permanecer em Gaza, onde moram outros parentes.

    Com isso, embarcaram 32 pessoas, sendo 22 brasileiros, 7 palestinos que têm RNM (Registro Nacional Migratório) e 3 palestinos que são familiares próximos. Dentre eles, 17 são crianças, 9 são mulheres e 6 são homens. 

    Quando chegarem ao Brasil, elas devem permanecer por duas noites em Brasília, em um alojamento da Força Aérea Brasileira (FAB), se recuperando e descansando. Como nem todos têm casa no Brasil e alguns são palestinos, será preciso oferecer apoio e documentação para viverem no país. Algumas famílias poderão ficar abrigadas no interior de São Paulo, em local oferecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social. 

    Grupo deixou Gaza após 37 dias de guerra 

    O grupo é formado por pessoas que estavam no sul da Faixa de Gaza, nas cidades de Khan Younis e Rafah, para onde se deslocaram após Israel anunciar que iniciaram pesados bombardeios no norte do enclave governado pelo Hamas. A organização iniciou a guerra com Israel após um ataque surpresa em 7 de outubro. 

    Na fronteira com o Egito, Rafah é o único ponto de saída de Gaza. No entanto, o posto de controle ficou fechado nas duas primeiras semanas de guerra. Após uma negociação entre Egito, Estados Unidos, Israel e o Hamas, os civis estrangeiros e palestinos com dupla nacionalidade foram autorizados a deixarem o enclave.  

    Mas a saída não foi autorizada para todos. Ela tem ocorrido em grupos de até 700 pessoas. As listas são divulgadas sem um critério claro, após aval de Israel. A maioria absoluta dos estrangeiros liberados são norte-americanos. Devido a questões burocráticas e de segurança, a fronteira com o Egito foi fechada diversas vezes e os cidadãos brasileiros não conseguiram sair do enclave palestino nas primeiras listas.  

    Israel alega que terroristas do Hamas podem se aproveitar para, por exemplo, se infiltrar em ambulâncias. Por isso, além dos veículos de socorro, centenas de caminhões com ajuda humanitária têm sido retidos na fronteira do Egito com Gaza, o que tem levado ao colapso do sistema de saúde no conclave palestino, que também sofre com cortes de energia elétrica e bombardeios. 

    O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a operação para a saída dos brasileiros contou com a colaboração de Tel-Aviv e Cairo. “O que eu posso dizer é que contamos tanto do lado de Israel quanto do Egito com boa vontade, tentando solucionar a questão como aconteceu no dia de hoje. Se não aconteceu antes, não foi só com o Brasil, foi com todos os outros países”, afirmou, em entrevista coletiva no domingo. 

    Após atravessar a fronteira, o grupo enfrentou uma viagem de ônibus que durou sete horas, até o Cairo, onde chegou por volta das 19h (horário de Brasília) e passou a noite em um hotel. Antes, houve uma parada para almoço na cidade de el-Arish, onde crianças brincaram na praia, mesmo sem roupas adequadas. 

    Governo brasileiro retirou 1.477 pessoas da zona de guerra em 10 voos 

    Com os 32 da Faixa de Gaza, o governo brasileiro transportou 1.477 passageiros — 1.462 brasileiros, 11 palestinos, três bolivianas e uma jordaniana —, além de 53 animais domésticos, nos últimos 37 dias, na operação de retirada de pessoas que estavam em Israel e na Palestina.  

    Três aeronaves da FAB e duas da Presidência da República foram usadas na Operação Voltando em Paz, que realizou 10 voos. Os outros nove voos partiram de Tel Aviv, em Israel, e de Amã, na Jordânia – com brasileiros que estavam no território palestino da Cisjordânia.  

    Desde o início dos voos de resgate, o presidente Lula não compareceu em nenhum aeroporto para recepcionar os brasileiros. Entre os motivos, porque ele ainda estava recluso no Palácio da Alvorada se recuperando da cirurgia no quadril e não podia fazer grandes esforços. Apenas no primeiro voo de chegada ao Brasil da zona de conflito no Oriente Médio, estiveram presentes o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o comandante da Marinha Marcelo Kanitz Damasceno. 

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