O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionou o motivo de a Organização das Nações Unidas (ONU) não evitar o avanço de conflitos armados ao redor do mundo. Ele citou as guerras da Rússia sobre a Ucrânia e a que acontece entre Israel e Hamas, que tem a Faixa de Gaza como área de maior tensão. Lula falou nesta quinta-feira (15) ao lado do presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi.

“Por mais que eu procure, eu não encontro explicação por que a ONU não tem força suficiente para evitar que essas guerras aconteçam, antecipando qualquer aventura, porque a guerra não traz benefício a ninguém. Traz morte, destruição e sofrimento”, disse, em viagem oficial ao continente africano.

O petista disse que esse foi um dos assuntos de reunião com Al-Sisi, endossando cobranças à ONU. No ano passado, o Brasil tentou articular uma resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas no Conselho de Segurança da ONU, mas a proposta apresentada recebeu veto dos Estados Unidos (que é membro permanente).

Para Lula, “é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam atores pacifistas, e não atores que fomentam a guerra”. O presidente brasileiro apontou que não passaram pelo órgão decisões sobre últimos registros de guerra, como invasões ao Iraque e à Líbia, assim como a da Rússia na Ucrânia.

“E o Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra entre Israel e a Faixa de Gaza. Ou seja, a única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas me parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas”, declarou.

Lula voltou a cobrar que o órgão passe por uma reestruturação na intenção de ampliar a participação de países, especialmente da África e da América Latina, assim como definir uma nova geopolítica na ONU e acabar com o direito de veto dos países.

“O que é lamentável é que as instituições multilaterais que foram criadas para ajudar a solucionar esses problemas não funcionam. Por isso o Brasil está empenhado, e esperamos contar com apoio do Egito, para que a gente consiga fazer mudanças necessárias nos órgãos de governança global”, acrescentou Lula.

O Conselho de Segurança da ONU foi criado para mediar e resolver conflitos internacionais. O órgão é integrado por 15 países, sendo cinco deles com posições permanentes: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China. Esses têm poder de veto para bloquear decisões que não concordem.

Completam o órgão 10 países que são membros em posições rotativas: Albânia, Brasil, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes Unidos.

No encontro com o presidente do Egito, Lula disse que agradeceu a articulação para que brasileiros que deixassem a Faixa de Gaza por via terrestre em ligação até Cairo, e defendeu um cessar-fogo permanente para ajuda humanitária e liberação de reféns.

“O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel, e ao sequestro de centenas de pessoas, e nós condenamos e chamamos de ato terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel a pretexto de derrotar o Hamas estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra, porque eu tenho conhecimento”, disse.

“A qualquer ângulo que se olhe, a escala da violência cometida entre os dois milhões de palestinos em Gaza não encontra justificativa”, acrescentou Lula. O presidente brasileiro reforçou seu apoio à ação movida pela África do Sul contra o Estado de Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em que acusa as autoridades israelenses de cometerem um “genocídio” contra os palestinos na Faixa de Gaza.

“Não haverá paz sem um Estado palestino convivendo lado a lado com Israel dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, frisou Lula.

Relações comerciais
Lula afirmou que seu encontro com Al-Sisi também teve como objetivo reforçar o contato diplomático, aproximando o Brasil da África e do Oriente Médio, e criar métodos para firmar parcerias comerciais estratégicas. O petista quer elevar o resultado da balança comercial de US$ 2,8 bilhões em ações que incluem diversas áreas entre os dois países, como agricultura, defesa, economia, ciência e tecnologia, assim como educação e cultura.

O presidente disse querer uma relação de “ganha-ganha” com o Egito. “Nós não queremos uma relação comercial de uma mão só. Nós queremos é comprar e vender, vender e comprar, para que o resultado final seja uma balança comercial equilibrada e que todos os entes estejam satisfeitos e vendo nossas economias crescerem”, declarou.

Lula disse que o Brasil conta com o apoio do Egito no G20 em duas iniciativas que serão lançadas: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima. O brasileiro ainda defendeu um debate sobre a dívida externa dos países africanos e voltou a se manifestar em tom favorável à criação da moeda comum para transações comerciais e de investimento dos BRICS (grupo de países emergentes) para minimizar a dependência do dólar.

próximo artigoSTF tem votos suficientes para receber denúncia contra cúpula da PMDF por 8/1
Artigo seguinteParceria da Petrobras com árabes busca recuperar operação de refinaria

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here