O governo brasileiro se posicionou após ataque em fila humanitária que deixou mais de 100 mortos e cobrou uma reação internacional para ‘evitar novas atrocidades’

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a fazer críticas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, após um novo ataque de militares israelenses que dispararam contra civis durante a entrega de ajuda humanitária nos arredores da Cidade de Gaza, na quinta-feira (29). Para a diplomacia brasileira, houve um “massacre”.

Por meio de uma nota publicada nesta sexta-feira (1º), o Ministério das Relações Exteriores (MRE) afirmou que “o governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal”. De acordo com o Hamas, ao menos 112 pessoas morreram e outras 280 ficaram feridas no ataque, em meio à fila para conseguir comida.

Para o governo brasileiro, “as aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território”. Segundo o MRE, entidades denunciam há meses que caminhões destinados ao abastecimento da região são retidos nas fronteiras com Gaza, causando situação crescente de fome, sede e desespero de civis.

“Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem”, frisa a nota do MRE, tratando sobre a situação de civis em busca de alimentos. O governo brasileiro cobrou, ainda, a reação de organizações internacionais para “evitar novas atrocidades”.

“Ao expressar sua solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica”, aponta outro trecho da nota.

O presidente Lula tem alimentado críticas e chamado de “genocídio” a atuação de Israel na Faixa de Gaza, na guerra contra o Hamas, com a morte de milhares de civis. Em viagem à Etiópia em 18 de fevereiro, o petista comparou os ataques das forças israelenses ao Holocausto, que foi a perseguição e o assassinato de judeus na Alemanha nazista por Adolf Hitler.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula na ocasião. Segundo aliados do presidente, a declaração foi direcionada a Netanyahu, mas gerou uma crise diplomática. O governo de Israel pede uma retratação de Lula, que se recusa a atender à exigência.

Veja abaixo a íntegra da nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores:

“O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, dos disparos por arma de fogo, por forças israelenses, ocorrido no dia de ontem, no Norte da Faixa de Gaza, em local em que palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Na ocasião, mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento.

As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território.

Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem.

Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.

O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.

A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.

Ao expressar sua solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica.

O massacre de hoje vem se somar às mais de 30 mil mortes de civis palestinos, das quais mais de 12 mil são crianças, registradas desde o início do conflito, além dos mais de 1,7 milhão de palestinos vítimas de deslocamento forçado. O Brasil reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.

O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.”

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