O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou, em discurso de mais de 20 minutos na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, nesta sexta-feira (23), o dólar, a ONU, o FMI, a União Europeia (UE) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao lado do anfitrião do presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do evento no Palácio Brongniart, o brasileiro voltou a defender a desdolarização da economia. Questionou a razão de Brasil, Argentina, Brasil e China “fazerem comércio em dólar”. 

Lula afirmou que a questão dos negócios com uso de moedas próprias será debatido durante as próximas reuniões do G20 e dos Brics, no segundo semestre deste ano. Ele cobrou que mais africanos sejam convidados para esses fóruns.

Logo após o discurso de Lula, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, afirmou que o colega brasileiro “não precisa se preocupar” porque a desdolarização será prioritária na cúpula dos Brics, que será sediada em seu país.

Lula diz que exigências da UE para acordo com Mercosul são ‘ameaça’

Em outra frente de ataque, Lula disse que a União Europeia “ameaça” o Mercosul com suas demandas para o acordo de livre comércio, negociado há décadas e cuja finalização é uma das prioridades de sua política externa.

“Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela UE não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta e vamos mandar a resposta. Mas é preciso que a gente comece a discutir”, ponderou o brasileiro.

“Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico. Como é que a gente vai resolver isso?”, completou Lula. 

Lula cobra ações de países mais ricos contra a pobreza e a desigualdade

Lula também cobrou respostas dos países mais ricos contra a pobreza e a desigualdade. Ele afirmou que, sem resolver essa questão, de nada adianta discutir a transição verde e o aquecimento global. O evento em Paris se propõe a “repensar a arquitetura do sistema financeiro global” e facilitar o financiamento para que as nações em desenvolvimento façam frente ao aquecimento global.

“Não é possível que numa reunião de países tão importantes, a palavra desigualdade não apareça. Junto da questão climática, temos que falar a palavra desigualdade. Desigualdade salarial, desigualdade racial, desigualdade de gênero, na educação, na saúde. Estamos em um mundo cada vez mais desigual”, disse Lula. 

Se o tema não for prioritário, disse Lula, pode haver “um clima muito bom, mas o povo vai continuar a morrer de fome”. De acordo com ele, para que isso ocorra, é necessário urgência na reforma do sistema global de governança, afirmando que o modelo criado após a Segunda Guerra Mundial não é adequado para a nova realidade e “as instituições de Bretton-Woods não funcionam mais”, referindo-se às regras firmadas no encontro de 1944 para regular a economia global e criar sistema financeiro multilateral no pós-guerra.

“É importante que a gente tenha noção de que a gente não pode continuar com as instituições funcionando de maneira equivocada. Mesmo o Conselho Nacional de Segurança da ONU. Os membros permanentes não representam mais a realidade política de 2023. Se representava em 1945, em 2023 é preciso mudar. A ONU precisa voltar a ter representatividade. A ter força política. A ONU foi capaz de criar o Estado de Israel em 1948 e não é capaz de resolver o problema da ocupação do Estado Palestino”, citou o presidente brasileiro.

Lula pede mais dinheiro ao FMI e Banco Mundial para países pobres

Lula disse também que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — cuja diretora-geral, Kristalina Georgieva, estava na cerimônia — não funcionam de forma adequada para atender às necessidades. As instituições, afirmou ele, “muitas emprestam dinheiro e depois o que vemos é a falência do Estado, como na Argentina”.

“Queremos criar novos blocos para negociar com a União Europeia. E aí, me desculpem Banco Mundial e FMI, precisamos rever o funcionamento. É preciso ter mais dinheiro, é preciso ter novas direções, mais gente participando da direção. Não podem ser os mesmos”, afirmou Lula. 

O brasileiro já havia dito na quinta, ao fim de sua visita à Itália, que fará o que estiver ao seu alcance para ajudar a Argentina em sua calamitosa situação de hiperinflação, disparada do dólar e diante da pior seca em quase 100 anos. O presidente Alberto Fernández fará uma visita de Estado ao Brasil — sua terceira viagem ao país desde maio — na semana que vem para tratar do assunto.

Segundo Lula, o FMI, “da forma mais irresponsável do mundo”, emprestou US$ 44 bilhões à Argentina em 2018 durante o governo do conservador Maurício Macri — sem citar o ex-mandatário, Lula disse que “não se sabe” o que foi feito com o dinheiro. De acordo com o petista, as consequências agravam a situação com que seu aliado Fernández, que em abril anunciou que não concorreria à reeleição, precisa resolver.

Lula é aplaudido após prometer combater o desmatamento e atacar Bolsonaro

O presidente brasileiro foi muito aplaudido por seus colegas ao dizer que “vai entregar” suas promessas de combater o desmatamento, preservar o meio ambiente e tirar novamente o Brasil do mapa da fome. Em meio ao discurso, ele chamou seu antecessor, Jair Bolsonaro, de “fascista” devido aos retrocessos democráticos.

“Quando voltei à Presidência agora, meu país estava pior do ponto de vista democrático porque tinha um fascista governando. Pior do ponto de vista educacional porque não havia dinheiro investido nas universidades. Pior do ponto de vista social (…), do ponto de vista econômico”, afirmou Lula.

Segundo o chefe do Executivo brasileiro, agora será necessário “refazer tudo para o país voltar a crescer”, mas que “a questão climática não é uma coisa secundária”. “Por isso, o Brasil vai levar a cabo o controle do desmatamento. Por isso, vamos pôr como uma questão de honra acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030”, disse ele, afirmando que não é preciso destruir mais um km, basta recuperar as terras degradadas.

Lula fez questão de convidar todos os líderes mundiais presentes para participar da COP-30, em 2025, no Pará.

“Eu espero que todas as pessoas que prezam tanto a Amazônia, que admiram tanto a Amazônia, que dizem que a Amazônia é o pulmão do mundo, espero que essas pessoas participem da COP, no estado do Pará, para que tenham noção do que é realmente a Amazônia. Porque muita gente fala, mas pouca gente conhece. E é importante que as pessoas falem conhecendo.” 

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