Após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a direita conservadora ensaia uma ofensiva em Minas Gerais em busca de capilaridade para as eleições municipais de 2024. Nos últimos seis meses, apenas na região metropolitana, Sabará, São Joaquim de Bicas e Betim, além de Belo Horizonte, receberam de senadores a pastores em congressos com entrada gratuita para tentar mobilizar eventuais candidatos a vereador e a prefeito na esteira do espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Em Betim, um dos convidados seria o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), mas. Como a Câmara dos Deputados, naquele mesmo dia, votaria a reforma tributária, ele cancelou a presença. Ao gravar um vídeo, Nikolas observou que, embora Bolsonaro tenha perdido as eleições, “deixou diversas sementes, que vão florescer e têm caído em terra boa”. “Não se sinta alheio a isso. Você faz parte disso. Você faz parte da história do nosso país. Seja você jovem, criança, adolescente ou mais experiente, você tem um propósito aqui”, afirmou.

Apesar da ausência de Nikolas, compareceram, por exemplo, os irmãos Cleitinho (Republicanos) e Eduardo Azevedo (PSC), senador e deputado estadual, respectivamente. Sem intitular o movimento como bolsonarista, Eduardo afirma que a estratégia, além de formar candidaturas, é fortalecer o “movimento conservador” em Minas. 

“O rótulo bolsonarista é mais uma questão criada pela oposição”, defende o deputado, que também foi a São Joaquim de Bicas e Sabará. “Entendo que o movimento de direita, conservador, dentro de Minas Gerais, é um movimento só”, diz. 

O cálculo dos conservadores é que, quanto maior o número de prefeitos e vereadores eleitos, maior o número de cabos eleitorais a uma candidatura a eles alinhada ideologicamente para o governo de Minas Gerais e para a Presidência em 2026. 

Líderes locais

Tanto em Sabará quanto em Bicas e Betim, os congressos receberam, além de deputados federais e estaduais como palestrantes, lideranças locais, como, por exemplo, vereadores já em exercício. 

O deputado federal Lincoln Portela (PL), que foi um dos convidados em Bicas, observa que os conservadores estão tentando vencer a máxima de conscientização, organização e mobilização. 

“(Nas eleições de 2022) nós tivemos muita conscientização, muita mobilização, mas na organização nós pecamos. Nós não estamos querendo pecar na organização, ou seja, queremos fazer esse trabalho em cada lugar onde nós temos pessoas com essa visão Deus, pátria, família e geração de emprego e renda”, aponta ele.

Defesa de pautas da ex-ministra Damares

Um dos braços da articulação da direita conservadora é a vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, Daniela Linhares. A pastora, que subiu no palanque da então primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) durante a campanha, esteve presente tanto em Sabará quanto em Betim como uma das palestrantes. A pauta emprestada por Daniela é a que chama de “defesa da criança e do adolescente”, o que, na figura da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e senadora, Damares Alves (Republicanos-DF), é uma das mais caras do bolsonarismo.

Inclusive, em um evento intitulado Maio Laranja, quando se comemora o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a Igreja Batista Getsêmani recebeu Damares. Já em um seminário cujo tema era “Rede de proteção à infância”, do qual Daniela também participou como palestrante, o convidado foi o ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Maurício Cunha.

Conforme Daniela, quando convidada, ela vai a congressos como os de Sabará e Betim como pastora. “Até então, não apoio nenhum candidato, também não sou candidata, e a logística desses eventos tem muito a ver com os pré-candidatos desses locais. (…) O fato de eu estar indo não quer dizer que eu esteja apoiando os candidatos. Eu estou indo como pastora para falar sobre a nossa pauta”, afirmou.

Projeto de expandir atos para o interior

Até então, os congressos estão restritos à região metropolitana, onde Bolsonaro, com 53,17% dos votos válidos contra 46,83% de Lula, ganhou no segundo turno. A estratégia de buscar capilaridade no interior vai esbarrar no eleitorado do atual presidente, já que Minas, considerado estratégico nas eleições nacionais – os presidentes eleitos nunca perderam no Estado –, foi o único da região Sudeste a dar a vitória a Lula contra Bolsonaro no segundo turno.

Um dos organizadores do movimento da direita conservadora – intitulado Movimenta Minas –, Erick Feitosa, que é assessor parlamentar de Eduardo Azevedo, avalia que, durante os governos Lula, a esquerda foi a lugares aonde a direita não ia. “A direita ficou no poder nesses quatro anos, e nós sentimos a necessidade de trabalhar o interior, ou seja, aonde a nossa mensagem como conservadores cristãos não estava chegando”, completa ele, que tem ao lado na organização, além da pastora Daniela Linhares, os assessores Dryca Moreira e Aguinaldo Santos.

As próximas agendas projetadas pelo movimento são em cidades como, por exemplo, Sarzedo, Lagoa Santa, Igarapé, Mario Campos e Contagem. 

Também devem receber investidas Monte Azul e Montes Claros, no Norte de Minas; Juiz de Fora, na Zona da Mata; e Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Exceção feita a Juiz de Fora e Monte Azul, Bolsonaro ficou à frente de Lula em todas. 

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