O Exército do Sudão suspendeu sua participação nas negociações na Arábia Saudita — mediadas por este país e pelos Estados Unidos — para alcançar uma trégua com os paramilitares que disputam o poder, anunciou uma fonte governamental à AFP nesta quarta-feira (31).

O Exército tomou a decisão, “porque os rebeldes nunca aplicaram um dos pontos do acordo de trégua temporária que prevê sua retirada dos hospitais e das casas. E não param de violar a trégua, afirmou a fonte, que pediu anonimato.

Deflagrado em 15 de abril, o conflito no Sudão envolve o Exército, comandado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo.

Arábia Saudita e Estados Unidos anunciaram na segunda-feira (29) que as duas partes haviam concordado em prorrogar por cinco dias uma trégua humanitária em vigor desde 22 de maio, mas a interrupção dos combates foi violada com ataques aéreos, disparos de artilharia e deslocamentos de blindados. 

Os próprios mediadores admitiram que a trégua não foi respeitada integralmente, mas que a prorrogação permitiria “mais esforços humanitários”.

Apesar das promessas dos dois lados, os combates foram retomados na terça-feira (30), tanto na capital Cartum como em Darfur, na região oeste do país, uma área crítica do conflito.

“O Exército está preparado para lutar até a vitória”, declarou o general Al Burhan durante uma visita às tropas na capital.

Lideradas pelo ex-aliado e atual grande inimigo de Burhan, Mohamed Hamdan Daglo, as FAR afirmaram que pretendem “exercer o direito de defesa” e acusaram o Exército de violar a trégua.

O analista Aly Verjee, especialista em política do Sudão, afirmou que os mediadores tentam evitar um colapso total das negociações, devido ao temor de um agravamento da situação.

“Os mediadores sabem que a situação é ruim, mas não querem afirmar que o cessar-fogo chegou ao fim porque temem que situação fique ainda pior”, disse Verjee, pesquisador da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

“A esperança é que, ao manter as partes negociando, as perspectivas de acordos mais respeitados aumentem”, completou.

O conflito, que deixou pelo menos 1.800 mortos, de acordo com a ONG ACLED, e quase 1,5 milhão de deslocados e refugiados, segundo a ONU, continua provocando vítimas fatais e forçando as famílias a abandonarem suas casas. 

Antes do novo conflito, o Sudão já era um dos países mais pobres do mundo. E, após quase sete semanas de guerra, 25 dos 45 milhões de sudaneses não conseguem mais sobreviver sem a ajuda humanitária, afirmou a ONU.

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