“Instinto Materno” estreia nesta quinta-feira nos cinemas, acompanhando duas amigas que se afastam após uma tragédia

Em cartaz a partir desta quinta-feira nos  cinemas, “Instinto Materno” nos capta de imediato ao abordar, nos primeiros minutos, o jogo de aparências e o machismo presentes em uma comunidade americana da década de 60. As duas mulheres protagonistas do filme, vividas por Anne Hathaway e Jessica Chastain, parecem manter uma harmonia de fachada, exibindo ressentimento em função de sonhos adiados ou frustrados pela maternidade.

Um dos principais momentos de tensão do filme dirigido pelo  francês Benoît Delhomme é quando  Alice (Jessica) revela que não gostaria, apesar do desejo do marido, de ter um segundo filho, porque deseja retomar a carreira de jornalista. Essa pressão social só aumenta quando a relutância é confrontada com o fato de Celine (Anne)  ter problemas para engravidar novamente. Apesar desses dilemas, as duas famílias ensaiam um certo equilíbrio em seu dia a dia.

Os maridos saem, as esposas levam os filhos à escola e se dedicam aos afazeres domésticos. Uma tragédia, porém, rompe com essa ligação, ponto de partida para “Instinto Materno” mudar de chave, abandonando a possibilidade de ser um drama crítico ao melhor estilo de Todd Haynes, diretor de filmes ácidos e melancólicos a respeito de valores morais disfarçados de opressão –  à mulher, principalmente – em filmes como “Longe do Paraíso” e “Carol”.

A narrativa apressa o passo em direção ao thriller de suspense, numa mudança que enterra tudo o que foi construído anteriormente, substituindo a sororidade por uma disputa entre mulheres à beira da loucura , apresentada como o “turning point” do filme. Por mais que se assuma como pertencente ao gênero “psicopata que vai às últimas consequências para alcançar o seu objetivo”, não dá para negar que “Instinto Materno” cai em sua própria armadilha.

O que se vê em seguida é uma profusão de convenções, muitas delas machistas, como mostrar os maridos que assistem a tudo pacificamente, algumas vezes reforçando o estereótipo da mulher “louca”. Se não fosse essa questão, tão fundamental em nossos tempos, “Instinto Materno” até se seguraria, muito pelo trabalho de Jessica e Anne – não por acaso, duas atrizes ganhadoras de Oscar, que conseguem dar maior textura às cenas de confrontação.

Ajudaria muito se o diretor – conhecido por seu trabalho como fotógrafo de filmes como “O Cheiro da Papaia Verde” (1994), “A Teoria de Tudo” (2014) e “O Portal da Eternidade” (2018) – não abrisse mão do olhar questionador sobre uma sociedade em que a responsabilidade pela criação dos filhos é única e exclusivamente das mães – perceptível na maneira preguiçosa e cúmplice (de certos machismos) como filma, por exemplo, a sequência capital da trama.

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