O sacerdote condenado por um tribunal eclesiástico por proferir afirmações “difamatórias e caluniosas” acerca de um padre que acusa de ter cometido abusos sexuais recusa-se a cumprir pena.

“Não cumpri nem vou cumprir o castigo que o tribunal da diocese de Lisboa me deu, porque, em consciência, não tenho qualquer dúvida sobre a veracidade daquilo que denunciei”, disse ao JN o padre Joaquim Nazaré, de 65 anos, condenado pelo Tribunal Patriarcal de Lisboa por proferir afirmações “difamatórias e caluniosas”.  

Em causa está a denúncia feita pelo sacerdote ao Ministério Público e à Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica envolvendo 12 padres (alguns ainda no ativo), acusando-os de abuso sexual de menores. Entre os sacerdotes denunciados, estava o padre Nuno Aurélio, membro da diocese de Lisboa e enviado há alguns anos, por D. Manuel Clemente, para o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Paris.  

Tem de pedir desculpas e doar salário

Três juízes diocesanos consideraram ter havido “difamação” da parte do sacerdote ao acusar o padre Nuno Aurélio e condenaram-no a pedir desculpas “pessoalmente” e também “publicamente, através dos canais diocesanos”, como forma de “reparação do escândalo”, além de doar um salário. Enquanto não o fizer, está “proibido de exercer no território do Patriarcado de Lisboa qualquer ofício público, especialmente o de pároco”. 

“Há um ano que abandonei a paróquia onde estava e estou apenas a ajudar ocasionalmente os sacerdotes que pedem e o tribunal sabe disso. Por isso, eu deixei de ser pároco muito antes de me proibirem”, afirmou. 

Quando recebeu a carta com a sentença, Joaquim Nazaré leu-a, fez algumas anotações e devolveu a sentença ao tribunal. “Escrevi também uma carta a D. Manuel Clemente, o anterior patriarca, que conhece muito bem este caso, mas nunca me respondeu”, disse o sacerdote que, nos últimos tempos, está a colaborar com a Santa Casa de Misericórdia das Caldas as Rainha. 

Na denúncia que apresentou, Joaquim Nazaré deu voz aos pais de um jovem catequista alegadamente abusado pelo sacerdote Nuno Aurélio, em 1994, na paróquia do Senhor dos Aflitos, na Cruz Quebrada, e que se suicidou em 1997. O padre nunca foi condenado em nenhum tribunal civil ou religioso. Civilmente, os inquéritos foram arquivados porque a queixa foi apresentada 19 anos depois dos supostos crimes, tendo já prescrito. 

O padre Nuno Aurélio considerou que foi difamado na imprensa e pediu ao Tribunal Patriarca de Lisboa a condenação de Nazaré. “Fui condenado por ter falado com jornalistas e com a imprensa e por ter tornado pública as queixas que apresentei”, finalizou Joaquim Nazaré. 

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