Empresários de diversos setores criticaram a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano, na decisão anunciada nesta quarta-feira (3), após reunião em Brasília (DF). 

No comunicado, o Banco Central voltou a sinalizar que a inflação ainda está alta no país e que a redução da taxa de juros só deve ocorrer mais para frente. “O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, diz o texto

Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), o aperto monetário tem desacelerado a economia e deixado o crédito mais caro para empresas e consumidores. 

“Ainda que a taxa esteja estabilizada desde agosto passado, ela está em seu nível mais alto desde 2017. Com isso, o crédito para os empresários está mais caro e eles têm mais dificuldade em investir em seus negócios, além de repassar esse valor para o preço final dos produtos. Por outro lado, as famílias têm dificuldade em cumprir seus compromissos financeiros e são afetadas pelo aumento do crédito rotativo do cartão, que é uma das principais formas de pagamento utilizada pelos consumidores”, avalia o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva. 

Outra entidade a questionar a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano foi a Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas). 

“Ainda que o controle inflacionário seja prioridade,a economia estagnada, com desemprego elevado e baixo nível de investimento, também deveria ser preocupante para o Copom, assim como o é para seus pares internacionais”, afirma Paulo Casaca, economista da ACMinas, em nota.

A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) também vê com preocupação a manutenção da taxa de juros no patamar atual, citando consequências negativas para a atividade econômica.

“As taxas de juros elevadas podem dificultar o acesso das empresas ao crédito e inibir investimentos, comprometendo o bem-estar da população e o progresso do país. Para garantir um ambiente mais favorável ao desenvolvimento econômico, é fundamental o estabelecimento de um arcabouço fiscal que ajude a ancorar as expectativas e reduzir os prêmios de risco. Além disso, é necessária a promoção de reformas que aumentem a eficiência dos gastos do governo e auxiliem na diminuição da inflação e das taxas de juros de médio e longo prazos”, segundo a nota da Fiemg. 

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom está equivocada. Em nota, o presidente da CNI, Robson Andrade, disse que o atual patamar da Selic restringe excessivamente a atividade econômica e já não é mais necessária para garantir a trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses.

“Volto a dizer o que disse no Senado [em audiência sobre o tema com o governo e o BC] há poucos dias: as empresas estão tomando crédito a mais de 30% e o setor produtivo não aguenta pagar esse nível de juros”, afirma Andrade.

José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), afirma que é preciso “resolver com urgência as incertezas que o cenário atual tem gerado, pois é impossível crescer com uma taxa básica deste tamanho”.

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) classifica que o Banco Central deveria reduzir a Selic.

“A Selic em 13,75% inibe a realização de novos investimentos e prejudica a vida de diversas empresas, nos mais variados segmentos. Nos níveis atuais, a despesa com juros bancários compromete a saúde financeira das empresas, que ficam impossibilitadas de crescer e com dificuldades de arcarem com suas despesas obrigatórias”, diz, em nota.

José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (indústria dos plásticos), também vê riscos. “Mesmo com a possibilidade de que a inflação brasileira ainda não tenha apresentado tendência de refluir para a meta, o país tem disparadamente um dos maiores juros reais do mundo, e as consequências disto são temerárias para a economia brasileira”, analisa.

Disputa com o governo federal

Membros da equipe econômica e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva também têm pressionado o Banco Central e afirmam que os juros altos atrapalham as concessões de crédito e os investimentos e que não existe nenhuma justificativa para que a Selic esteja, neste momento, nesse patamar. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem defendendo maior coordenação entre as políticas fiscal (que cuida da arrecadação e dos gastos públicos) e monetária (taxa de juros para segurar a inflação).

Para a economista e professora de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, a decisão do Banco Central acirra a disputa com o governo.

“Desta forma, o embate entre o Banco Central e o governo vai seguir rigoroso. Provavelmente, a taxa de juros só recue no segundo semestre, após a aprovação do arcabouço fiscal, mas para além dessa questão, a redução estará provavelmente mais ligada ao fato de que o BC vai reduzir a taxa de juros quando ele decidir para fixar o pé na autonomia, e não a redução agora para que não digam que ele reduziu porque foi pressionado pelo governo”, afirma.

próximo artigoOnlyFans quer ser vista como plataforma segura para qualquer tipo de conteúdo
Artigo seguinteApps não querem CLT, mas topam contribuição previdenciária

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Please enter your comment!
Please enter your name here