A palavra Carnaval, aos mais sinestésicos, tem cor, cheiro e som. Impossível não associar o Carnaval ao brilho do glitter, ao cheiro das ruas lotadas e ao som das baterias. Estas últimas presentes, mesmo que em número mais tímido de músicos, em todos os mais de 500 blocos espalhados por Belo Horizonte. Com um volume tão alto de baterias a todo vapor, quem lucra são as lojas e os fabricantes de instrumentos, que esperam, nesta última semana que antecede a folia neste ano, até o dobro do movimento habitual.

Movimento que atinge também, quase com a mesma intensidade, as escolas que oferecem oficinas de percussão. Embora tenham aulas durante todo o ano, as instituições registram fluxo até 50% maior nas atividades voltadas a esse tipo de instrumento já em novembro e dezembro, com alunos motivados pela folia.

Na Boutique Instrumentos, localizada na Savassi, região Centro-Sul de BH, a expectativa é crescer 30% em vendas de instrumentos de percussão, comparando o período do Carnaval com os meses anteriores. Por lá, as vendas totais de janeiro (incluindo todos os instrumentos com os quais a loja trabalha) devem superar o mesmo mês do ano passado em 100%.

A diretora comercial da loja, Fernanda Toledo, conta que a procura por instrumentos é variada, mas destaca a presença mais intensa de músicos de blocos – que pedem ainda reparos em instrumentos antigos, como troca de pele – e turistas, principalmente estrangeiros, que procuram instrumentos clássicos. “O estrangeiro chega aqui pedindo ‘brazilian instrument’ e geralmente mostramos o tamborim, a cuíca e o pandeiro”, conta.

Venda de instrumentos cresce no Carnaval

O tamborim, inclusive, é sucesso de vendas. “Tem família que chega aqui e compra tamborim para todo mundo”, revela. “Na semana do Carnaval, a loja enche e aumentam também as vendas de baquetas e bags para tamborim”, acrescenta Fernanda. A loja fica aberta até sábado de Carnaval, para atender àqueles que deixaram para última hora e também os “bagunceiros”, que querem um instrumento apenas para se divertir no meio do bloquinho.

Por lá, os clientes investem a partir de R$ 99 em um tamborim e R$ 199 em um pandeiro. Os músicos também encontram caixa por R$ 299 e surdo por R$ 389. Além de acessórios, como baquetas, a partir de R$ 7, e talabarte (alça para carregar instrumentos como tambor), a partir de R$ 19,90.

Venda de pandeiros também cresce

Além dos instrumentos de percussão mais comuns nas baterias de rua, os pandeiros também são sucesso nessa época. Na Dyorman Percussão, a expectativa é crescer 50% nas vendas de pandeiros nas semanas que antecedem o Carnaval. “A procura por pandeiros para o Carnaval é sempre bem alta. A partir de dezembro já procuram pelo nosso instrumento para usar no Carnaval. E normalmente, no início do ano, a demanda aumenta bastante”, comenta Maria Luiza Dyorman, 19 anos, responsável pelo atendimento ao cliente.

Maria Luiza conta que, neste mês, o movimento cresceu tanto que foi necessário dobrar a produção. “Muitas pessoas nos procuram para fazer o uso nos blocos de carnaval. Mas os principais clientes em geral são músicos que tocam em rodas de samba”, conta. Durante o ano, o público habitual são professores e também alunos que chegam por indicação.

Na Dyorman, os clientes investem entre R$ 230 e R$ 600, dependendo da característica e especificidade do pandeiro. A empresa ainda fornece acessórios, como bag para guardar o instrumento, por R$ 90, e cera para hidratar o couro, por R$ 8. Além de itens para realizar ajustes, como abafadores, platinelas e chaves de afinação.

Já Adelson de Oliveira Lima, que produz pandeiros e outros instrumentos de percussão artesanais, espera um movimento 100% maior, se comparado aos demais períodos do ano. “Realmente tem uma procura muito grande, principalmente o pandeiro, que é um instrumento mais fácil de carregar e de transportar, né?”, comenta.

Adelson fabrica pandeiros artesanalmente

Ele conta que o público varia, mas é composto principalmente por músicos que tocam em rodas de samba e festas religiosas, como o Congado, no caso de tambores. Adelson explica que o instrumento artesanal tem características próprias, mas que tem feito pequenas mudanças para melhorar a experiência dos músicos durante o Carnaval. As diferenças estão principalmente nos instrumentos usados em festas como o Congado e o Maracatu.

“Tem algumas diferenças, são aqueles tambores amarrados com corda, diferente do Samba, que são afinados com aqueles parafusos. Nada te impede de usar esses tambores tradicionais do Congado ou do Maracatu no samba. Os blocos estão cheios desses instrumentos que são usados no Congado, que é a pele de couro, afinação com corda, o aro de madeira”, comenta.

“E, aí, este ano eu já modifiquei e coloquei o aro de alumínio, mantive a afinação com corda, que fica mais leve, mas fiz vários tambores com essa mudança”, explica. “A procura é muito grande porque aquelas mesmas pessoas que tocam e acompanham festas religiosas estão lá no samba. Acaba tudo sendo um movimento só”, analisa. Com ele, os pandeiros podem ser comprados a partir de R$ 360.

Aulas de percussão em alta

Se a procura por instrumentos aumenta, o interesse em aprender a tocá-los cresce quase na mesma proporção. Na escola de música Cavallieri, as aulas de percussão ficam cheias nessa época. Por lá, o fluxo de alunos aumenta cerca de 30% a 40% no fim do ano por causa do Carnaval.

A escola oferece oficinas de percussão durante todo o ano, dentro do projeto Cavallieri Club, que contempla oficinas de ritmos diversos. A maioria dos alunos procura as aulas para tocar em blocos pela cidade ou mesmo no próprio bloco da escola, o “Bloco da Família”, criado em 2010 e pensado para inclusão de foliões de todas as idades.

O bloco, que sai sempre no sábado anterior ao Carnaval, faz ensaios abertos na Praça JK, no Sion, e atrai foliões e curiosos. “Às vezes, a pessoa assiste a gente ensaiando e participa com a gente. Nós levamos instrumentos que a pessoa pode pegar na hora para participar. De vez em quando alguém fala assim: ah é uma escola de música? Que ótimo! Tem aula de violão também? Tem aula para criança? E uma coisa puxa a outra”, conta Inácio Cavallieri, diretor da escola, lembrando que os ensaios funcionam também como vitrine para a instituição.

As aulas de percussão, segundo Inácio, acontecem toda semana e oferecem aos alunos o contato com diversos instrumentos, para que eles mesmos migrem, de acordo com a vontade, para aqueles com os quais mais se identifiquem.

Para quem nunca tocou um instrumento de percussão, a pergunta mais comum é: qual o instrumento mais simples para quem está iniciando? De acordo com Inácio, a resposta não é uma matemática exata. “Mais importante que isso é você gostar, se identificar, dizer ‘é esse som que eu quero aprender’. Qualquer um que você tiver paciência, disciplina e vontade, você vai aprender a tocar”, afirma.

Além disso, outra dúvida comum é quanto ao tempo para aprender. Segundo Inácio Cavallieri, isso também varia. Há pessoas que têm mais facilidade para aprender ou já possuem algum contato com a música e, em questão de um mês ou dois, já dominam a técnica, e há pessoas que vão precisar de um período maior.

Na escola de música Percussão Circular, criada em 2013 pelo carnavalesco Di Souza, que comanda a bateria do mega bloco Então, Brilha!, as aulas de percussão também acontecem durante o ano inteiro e são majoritariamente ocupadas por alunos focados no Carnaval.

Segundo Di Souza, a escola tem hoje cerca de 300 alunos. “A Percussão Circular responde hoje por parte considerável do acervo de batuqueiros espalhados pela cidade. Em dez anos de trajetória, a gente já musicalizou mais de 5.000 pessoas nessas diversas turmas que já existiram em nossos espaços”, revela. “A procura durante o Carnaval é alta, e é justamente o momento em que a gente abre inscrições para os interessados poderem, passando a folia, iniciarem sua jornada aqui dentro”, diz.

A Percussão Circular tem hoje cerca de 300 alunos

Di Souza conta que o público geralmente é classe média, mas existem várias iniciativas dentro da escola que visam estimular o acesso de diversos públicos. “A gente tem um quadro de alunos bem diverso”, comenta.

Por lá, o aluno também transita por vários instrumentos – apesar de existirem os “queridinhos”, como a conga, a caixa e o pandeiro. “A percussão circular hoje se tornou uma metodologia também estudada pelas universidades. Ao longo desses dez anos, fomos aprimorando o nosso fazer e criando jogos e atividades musicais próprias”, celebra Di Souza.

As inscrições para a próxima turma na Percussão Circular abrem nesta segunda-feira (5/2). A escola conta também com um bloco de Carnaval, o Circuladô, que vai contar com três baterias diferentes que revezam entre si durante a apresentação. O Bloco está previsto para sair no domingo, no Lourdes.

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