A decisão da quarta-feira (1º/11) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, já era esperada, na visão de economistas e analistas de mercado de todo o país. A taxa passou de 12,75% para 12,25% ao ano e voltou ao menor patamar desde maio de 2022.

No entanto, o mercado financeiro está atento a uma possível mudança na projeção da inflação para os próximos anos, principalmente após o presidente Lula minimizar, na semana passada, o objetivo de cumprir a meta fiscal e atingir o déficit zero em 2024. 

“Convém pontuar a revisão das projeções do Banco Central para a inflação. Embora a estimativa deste ano tenha recuado, os cálculos referentes a 2024 e 2025 – horizonte relevante – foram revistos para cima, majorando a incerteza acerca do orçamento total de flexibilização, ainda que os membros ‘antevêem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões’, pois, mesmo com as adversidades, há espaço para distensão da política monetária”, afirma Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos.

E a desaceleração da economia dos Estados Unidos também continua no radar dos analistas brasileiros. 

“As futuras decisões serão impactadas sobretudo pelo homólogo norte-americano. Caso o Banco Central dos Estados Unidos mantenha o atual patamar de juro (para os próximos meses), o Copom eventualmente poderia desacelerar o passo do ciclo em curso somente se houver mudança na meta fiscal, e a taxa terminal seria, neste caso, mais elevada. Portanto, o contexto demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, afirma van Moorsel.

E a questão fiscal do Brasil também foi destacada no comunicado do Banco Central sobre a nova taxa básica de juros. 

“Na minha opinião, a decisão veio dentro do esperado, sem surpresas. Chama a atenção no comunicado alguns pontos bem importantes que foram destacados, principalmente referente à questão da necessidade do cumprimento das metas fiscais já estabelecidas pelo próprio governo para a continuação do ciclo de queda de juros. Então a gente vê o Copom trazendo esses pontos, essas necessidades, que essas metas fiscais sejam atingidas para que assim siga-se o mesmo ritmo de redução de juros. A expectativa que a gente tem para o próximo ano é de uma taxa por volta de 9,5% e fica claro que, para que ocorra isso, será necessário alguns discursos que ressaltem o compromisso do governo com as metas fiscais. A ideia que passa é que o governo precisa ficar comprometido com essa questão do déficit zero”, destaca Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital. 

Ainda segundo o especialista, “caso os compromissos fiscais não sejam cumpridos da forma como planejado, o BC pode precisar rever a rota. Então, eu acredito que é um primeiro sinal de que caso isso não seja cumprido, podemos ter aí uma reprecificação lá na frente”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, já projeta um patamar para a taxa Selic no fim deste ano.  

“O Banco Central tem feito um processo de flexibilização importante da taxa de juros, a gente vai convergir para o que já era esperado por nós, para 11,75% na última reunião deste ano, em dezembro, fechando 2023. E deve continuar assim para dentro de 2024. Ou seja, mais cortes de 50 pontos base (0,5 ponto percentual), dependendo claro dos dados. Não vejo mudança nessa trajetória nas próximas reuniões, mas caso a situação global e a local favoreçam uma eventual aceleração de cortes em 2024, podemos de fato tê-los”, justifica Spiess. 

Mas apesar do otimismo, o analista da Empiricus também analisa os riscos já citados pelos outros especialistas de mercado.

“Qual seria esse outro risco? A desaceleração da economia americana não vir e as taxas de juros continuarem pressionando, se tivermos problemas no controle da inflação local e no fiscal brasileiro. Nesse contexto, daí esquece qualquer chance de aceleração em 2024, seria mais um risco de desaceleração, que me parece bastante plausível, dada a complexidade do momento atual”, acrescenta Spiess. 

A Empiricus acredita em um ciclo de flexibilização até um patamar de 9%, no início de 2025. 

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