Novos bombardeios abalaram o Sudão nesta segunda-feira (8), sem sinais de avanços na negociação em curso na Arábia Saudita para um cessar-fogo, com ambos os lados convencidos de que podem “vencer a disputa”.

O Sudão está mergulhado no caos desde 15 de abril, quando eclodiram confrontos entre o Exército do general Abdel Fatah al-Burhan e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR) do general rival Mohamed Hamdan Daglo. 

Até o momento, os combates deixaram 750 mortos, cerca de 5.000 feridos e mais de 335.000 deslocados. Milhões de habitantes sobrevivem trancados em suas casas por medo de bala perdida, sem água ou energia elétrica em muitos casos e com escassas reservas de comida e de dinheiro.

Os generais rivais enviaram representantes para a cidade saudita de Jidá para negociações sobre uma trégua humanitária, um esforço apoiado pelos Estados Unidos, mas sem resultado até agora. 

As negociações não registraram “nenhum avanço importante”, disse um diplomata saudita à AFP nesta segunda-feira, pedindo para não ser identificado.

“O tema de um cessar-fogo permanente não está sobre a mesa. Cada lado acredita que é capaz de vencer a disputa”, acrescentou. 

Em Cartum, a capital sudanesa de cinco milhões de habitantes, testemunhas aterrorizadas relataram novos combates, que entram em sua quarta semana. 

Um morador disse que podia ouvir “o estrondo dos ataques aéreos que pareciam sair de perto de um mercado no centro de Cartum”.

‘Perigo em toda a parte’ 

Os combates provocaram um êxodo em massa de estrangeiros e sudaneses, tanto por ar, quanto por mar e terra para Egito, Chade, Sudão do Sul e outros países vizinhos.

“Há perigo em toda a parte”, afirmou Rawaa Hamad, que escapou de Porto Sudão (nordeste) em um voo de retirada para o Catar nesta segunda com 71 pessoas.

No Sudão, disse, “não há segurança agora, infelizmente”, e as pessoas sofrem “a falta de tudo: falta de água, falta de combustível, falta de remédios, falta até hospitais e médicos”. 

O responsável por Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, chegou a Jidá no sábado (6) com o propósito de se reunir com representantes de ambos os lados, mas seu papel no processo não está claro.

Um funcionário da ONU disse, nesta segunda-feira, que Griffiths “pediu para participar das negociações”, mas seu pedido ainda não foi aprovado. 

Os Estados Unidos e a Arábia Saudita descreveram essa discussão como “conversações prévias a uma negociação”. 

Ajuda humanitária 

O objetivo é conseguir um “cessar-fogo que seja efetivo no curto prazo”, facilitar o envio de ajuda humanitária, restabelecer os serviços essenciais e definir um “calendário mais amplo de negociações” para pôr fim ao conflito de forma permanente, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita.

Ambos os lados começaram a “discutir as medidas de segurança que devem ser implementadas para facilitar a chegada urgente de ajuda humanitária e restaurar os serviços essenciais”, acrescentou o Chancelaria saudita.

Um grande avanço seria conseguir o estabelecimento de corredores humanitários que permitam a chegada de ajuda procedente de Porto Sudão, na costa do Mar Vermelho, a Cartum e à região de Darfur, fronteiriça com o Chade, também assolada pelos combates.

Desde meados de abril, foram declaradas múltiplas tréguas, sistematicamente quebradas. 

Antes de entrarem em conflito aberto, os generais Al-Burhan e Daglo cometeram, juntos, um golpe de Estado para derrubar os civis do poder em outubro de 2021. 

Dois anos antes, sob a pressão de uma grande mobilização popular, o Exército havia derrubado o ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há três décadas. 

As esperanças de uma transição para a democracia se esvaíram com o golpe de 2021, e as negociações sob mediação internacional para integrar os paramilitares das FAR ao Exército não fizeram mais do que exacerbar a tensão entre os dois generais rivais. 

Assim, em 15 de abril, quando deveriam se reunir para continuar negociando, preferiram recorrer às armas.

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