É impossível tirar da contratação pelo Atlético do técnico argentino Jorge Sampaoli, que neste domingo (1) chegou a Belo Horizonte para assinar contrato com o clube, o caráter político. Isso porque o clube vive um ano eleitoral e Sérgio Sette Câmara foi o escolhido por uma ala importante do Conselho Deliberativo para tocar o projeto de reestruturação financeira que está diretamente ligado à construção da Arena MRV, que deve ter início ainda este ano. Mas a falta do resultado em campo, somada à ruptura com o ex-presidente Alexandre Kalil, poderia colocar em risco a sua reeleição ou a de algum candidato do grupo que ele integra.

É importante destacar que Kalil não concorrerá à eleição, primeiro porque já declarou que não pretende voltar à presidência alvinegra, mas o principal motivo é que concorrerá este ano à reeleição como prefeito de Belo Horizonte, num processo em que aparece com larga vantagem sobre os concorrentes pelo alto índice de aprovação.

Na última sexta-feira (28), em entrevista coletiva na Cidade do Galo, para falar das demissões do diretor de futebol Rui Costa, do gerente Marques, e do treinador Rafael Dudamel, além dos quatro auxiliares que vieram com ele da seleção venezuelana, Sette Câmara citou a eleição deste ano, mas não se colocou como candidato à reeleição. Isso embora Dudamel tenha chegado à Cidade do Galo com um contrato até o final de 2021, mesmo situação vivida agora pelo argentino Sampaoli.

A construção da Arena MRV, que tem como espécie de patronos Rubens Menin e o ex-presidente Ricardo Guimarães, requer cuidados financeiros para que o clube não corra o risco de ter receitas da obra bloqueadas por dívidas do futebol. O discurso de austeridade de Sette Câmara, desde o início da sua trajetória como presidente do Atlético, é justamente por isso. E o empresário e o banqueiro são seus dois maiores apoiadores dentro do Conselho Deliberativo.

É verdade que este discurso foi muito abalado pelos vários erros de contratações, pois grandes apostas deram errado. E neste momento, em que o fracasso do futebol ameaça a continuidade, Menin e Guimarães ajudam financeiramente o clube, e isso acontece inclusive no acerto com Jorge Sampaoli, que é um treinador muito mais caro que Rafael Dudamel, até porque tem muito mais currículo e chance de dar certo.

Comparação

Na coletiva da última sexta-feira, em sua defesa, Sette Câmara fez clara referência a Kalil ao afirmar: “Já tivemos outras situações no passado que tiveram início de mandato complicado e depois tiveram grandes conquistas. Não é tão simples assim. O principal é fazer o melhor, de maneira transparente e honesta. Errei em muitas coisas, tenho tentado melhorar, acertar”.

Alexandre Kalil, em seu primeiro mandato, entre 2009 e 2011, acumulou fracassos, como duas goleadas para o Cruzeiro em momentos importantes (5 a 0 e 6 a 1), a perda da vaga na Libertadores de 2010 no Brasileirão de 2009, e as brigas contra o rebaixamento nas Séries A de 2010 e 2011.

Nos seus primeiros três anos à frente do Galo, Kalil ganhou apenas um Campeonato Mineiro, o de 2010, mesmo assim numa final contra o Ipatinga.

A partir de 2012, quando começou seu segundo mandato, se transformou no maior presidente da história do clube ao contratar Ronaldinho Gaúcho, fazer campanha brilhante no Brasileirão de 2012 e ganhar a Libertadores (2013), Recopa Sul-Americana (2014) e Copa do Brasil (2014), numa conquista inesquecível, pois foi sobre o rival Cruzeiro.

Para o Atlético é fundamental vencer o Campeonato Mineiro de 2020, pois perder uma competição onde tem um orçamento muito superior aos demais concorrentes e que disputa como único clube da Série A, será um vexame. Além disso, fazer boa campanha no Brasileirão é fundamental em todos os sentidos.

Financeiramente, para se tentar diminuir o prejuízo provocado pelas quedas prematuras nas Copas Sul-Americana e do Brasil. Técnico, para o clube não só apagar a imagem ruim deixada com as eliminações para Unión de Santa Fé, da Argentina, e Afogados, de Pernambuco, mas para tentar voltar à Libertadores no ano que vem.

Sampaoli, pode-se dizer sem dúvida, é o treinador do sonho da torcida atleticana. O que ela não sabe é que o sucesso do argentino na Cidade do Galo tem outra consequência e ela está diretamente ligada à Arena MRV.

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