O consumo de álcool no período da quarentena aumentou, segundo o psiquiatra Henrique Bottura, diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista. “Muitas pessoas que tinham o hábito de beber eventualmente, ou aos finais de semana, estão bebendo mais.”

O psiquiatra explica que o uso do álcool está muito relacionado à disponibilidade. “Quando ele está fácil, você tem um aumento do consumo. Então aquela pessoa que tomava uma cerveja no final do expediente, está com a cerveja disponível o dia inteiro em casa.”

Segundo o médico, outro fator que pode ter contribuído para o aumento do consumo de álcool é o aumento da ansiedade e tensão nesse período. “O álcool acaba tendo esse papel. Muitas pessoas bebem para aliviar a ansiedade. Tem um alívio imediato, mas, depois, essa ansiedade pode vir maior.”

Para diferenciar quando o consumo de álcool está sendo normal ou já está encaminhando para o início de uma dependência, não existem parâmetros objetivos . “Varia muito de pessoa para pessoa. Para algumas, beber aos finais de semana pode ser ok, mas, para outras, pode ser muito prejudicial.”

Porém, existem três critérios comportamentais que podem ser observados. O primeiro diz respeito à falta de controle durante o consumo de álcool. “Aquela situação em que você acaba consumindo muito mais do que o esperado. Diz que vai tomar apenas uma taça de vinho e acabar tomando a garrafa inteira.”

O segundo está relacionado à adaptação do organismo à substância, que pode ser percebida na necessidade de aumentar a quantidade de álcool para obter a mesma sensação e na abstinência. “A abstinência costuma aparecer em pacientes mais graves, com estágios mais avançados da condição, mas nela a pessoa pode apresentar tremor, suor frio e confusão mental.”

O último fator é a persistência no comportamento mesmo após o indivíduo ou familiares e amigos terem percebido que o consumo está sendo prejudicial. “Se mesmo a pessoa percebendo que o rendimento dela no trabalho e as relações pioraram, ela continua bebendo, é sinal de dependência.”

O médico explica que o transtorno por uso de álcool possui um padrão familiar. “Pessoas que possuem alcoólatras na família possuem de 3 a 4 vezes mais chance de desenvolver o transtorno.”

Além disso, o consumo precoce, na adolescência, também está relacionado a piores quadros de dependência no futuro.

Para as pessoas que perceberam um aumento do consumo no período da quarentena, o médico sugere estabelecer regras e parâmetros restringindo o consumo de álcool. “Você pode escolher dias específicos e não ter bebida em casa fora desses dias.”

Bottura afirma que, a partir do momento em que a pessoa ou familiares e amigos percebem que o consumo de álcool está trazendo prejuízos e a capacidade de controle estiver muito prejudicada, é melhor procurar ajuda profissional e médica. “Quanto antes você se mobilizar, menos difícil será o tratamento.”

Segundo ele, a primeira fase do tratamento é a aceitação da condição, que segundo o médico, é a mais difícil. “Depois que conseguimos transpor isso, começa a fase de abstinência, em que a gente tenta diminuir ao máximo a exposição ao consumo.”

O psiquiatra explica que o alcoolismo é uma doença da perda do controle, portanto, se a pessoa ficar sob exposição, ela pode voltar a beber. Uma segunda parte do tratamento é a de tratar comorbidades psiquiátricas que possam existir. “Muitas vezes o consumo de álcool máscara uma ansiedade de base ou depressão que necessita de medicação. A gente também pode utilizar alguns remédios que diminuam a fissura pelo álcool.”

Outras estratégias de tratamento podem ser utilizadas, como os grupos de apoio de 12 passos. “Os tratamentos de dependência são muito difíceis. Normalmente, envolvem mudanças de comportamento, questões do indivíduo, questões familiares, então, toda ajuda é bem-vinda. As pessoas que se envolvem com o método do grupo, normalmente, conseguem ter uma evolução boa.”

próximo artigoFlamengo empata com o Botafogo por 1 a 1 no Maracanã
Artigo seguinteVolta ao trabalho presencial pode desencadear ansiedade e depressão