O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) realizou solenidade, na noite de quarta-feira (11/5), para a troca do comando da entidade, que foi criada há mais de 40 anos e representa 85% da produção mineral brasileira. O evento de posse de Raul Jungmann e outros membros do conselho diretor da entidade, que reúne associados de peso como Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Vale, CSN Mineração, Anglo American, Kinross, Embu, Vanádio de Maracás e Nexa, contou com a presença de autoridades e representantes do setor.
O presidente em exercício da Câmara, Marcelo Ramos (PSD-AM), citou em seu discurso a pauta ESG, sigla da moda no mercado financeiro que engloba as boas práticas a serem adotadas pelas empresas como governança, social e sustentabilidade — este último é assunto delicado ao setor.

Entre 2015 e 2019, a mineração vivia uma crise profunda de imagem no país devido aos rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Período também que os então executivos à frente do Ibram assumiram as presidências dos conselhos diretor e executivo (Wilson Brumer e Flávio Penido, respectivamente).

Diálogo com setores ambientais
 Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Defesa e Segurança Pública, Raul Jungmann também presidiu conselhos de administração do Banco do Brasil e Porto de Suape, tendo, também, presidido o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Jungmann cumpriu ainda três mandatos como deputado federal entre 2003 e 2016.

Ao Correio, Jungmann explicou que sua escolha é uma busca do setor por uma melhor interlocução do setor entre Executivo e Legislativo devido ao seu histórico na vida pública e por uma abertura para o diálogo com setores ambientais. “O Ibram contratou uma empresa de headhunter e avaliou currículos. O conselho me escolheu por eu conseguir dialogar entre diferentes setores e com Brasília”, disse. Segundo ele, a pauta ambiental se tornou importante para a mineração. “Como disse no meu discurso, não teremos tabu sobre questões ambientais. O setor precisa dessa mudança de postura”, afirmou.

Um representante do setor presente no evento que preferiu a condição de anonimato disse que a escolha de Jungmann dá um tom mais político ao Ibram neste ano. “Ele é alguém que já foi ministro, transita bem por Brasília, à direita e à esquerda. Uma pessoa que foi ministro da Defesa e ligado às pautas ambientais”, analisou.

Marcelo Ramos reiterou que a escolha de Jungmann foi significativa e que vem de uma série de demonstrações do setor na busca por mudar a sua imagem. “O setor se mostrou contra o garimpo e pró-agenda ESG. Não está no discurso, é estrutural. Jungmann, eu disse isso a ele, é o tom político, ambiental para mostrar essa guinada”, afirmou à reportagem.

Para presidir o Conselho, o escolhido foi o empresário Wilfred Bruijn, da Anglo American Níquel Brasil Ltda, alguém técnico que compreenda o setor e que conversa com o exterior.

“Os discursos ditos aqui, hoje, nunca ouvi em mais de 40 anos de instituição, como defesa da democracia. Isso é algo que nunca precisou ser dito aqui e demonstra um incômodo do que vem acontecendo no cenário político”, disse uma fonte na condição de anonimato. A fonte ainda explicou que a Vale e outras multinacionais maiores não estavam bem posicionadas no evento, com poucos representantes presentes e deixando as posições de destaque.

“O que temos é uma Vale e suas semelhantes no que tange às grandes mineradoras com a pauta ambiental muito afetada devido ao desgaste por causa do que ocorreu em Minas Gerais. A entidade quer tirar esse peso do setor, mudar a imagem”, concluiu.

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