Mais de um quinto da população brasileira, grandes capitais têm campanhas ‘nacionalizadas’, enquanto municípios menores põem questões locais em foco

No próximo mês, mais de 147 milhões de brasileiros devem ir às urnas para definir prefeitos e vereadores de seus municípios. Para além das diferenças em relação às eleições nacionais e estaduais, o pleito municipal possui particularidades a depender da dimensão de cada cidade.

“[A campanha e as eleições] dependem muito do contexto local. Nas grandes capitais, as eleições para prefeito são, em geral, nacionalizadas. Em São Paulo, Rio e Recife, por exemplo, as questões nacionais aparecem nas eleições para prefeitos. Nas cidades do interior, isso acontece menos: são questões locais e específicas”, avalia Glauco Peres, professor e cientista político da USP (Universidade de São Paulo).

Rosemary Segurado, cientista política e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), avalia que há, também, outras distinções nas campanhas políticas em capitais (ou cidades grandes) e os municípios de menor dimensão ou população.

“Nas cidades menores, há muito mais o efeito de corpo a corpo. As relações de confiança, de proximidade, acabam tendo um peso muito grande, o que chamamos de formador de opinião horizontal”, afirma Segurado.

Para Maurício Fronzaglia, do departamento de ciência política da Universidade Presbiteriana Mackenzie, até mesmo as alianças entre partidos mudam das ‘cidades grandes’ para os municípios menores: “Em muitos casos, vemos Democratas estarem aliados ao PDT, e o PSDB com o PT. A lógica local é diferente na cidade menor, porque ela tenta resolver os problemas mais próximos da população”.

Eleições nacionalizadas nas capitais

Somente as 15 cidades mais populosas do Brasil correspondem a mais de 20% da população brasileira, segundo estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2020. Nestes centro urbanos, vivem cerca de 44 milhões de pessoas.

Nestas grandes cidades, como avalia Glauco Peres, há uma tendência de ‘nacionalização’ das campanhas eleitorais, sobretudo na disputa pelas prefeituras.
Da mesma forma observa Maurício Fronzaglia, que aponta como exemplos capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, entre outras. “Há elementos da disputa nacional que se colocam nessas capitais”, diz.

Paulo Baía, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), alerta que é nestas cidades de grande porte onde candidatos costumeiramente prometem medidas que não são de sua atribuição.

“Acontece principalmente nas grandes cidades e centros urbanos, onde os temas nacionais entram muito e, portanto, a competência fica difusa. Os candidatos falam de atividades que não cabem ao prefeito”, comenta Baía. Ele avisa que, entre os temas mais comuns em propagandas enganosas, a segurança pública é que merece maior atenção nestes casos, já que à prefeitura compete apenas a gestão das guardas municipais, e não das polícias – estas, de administração dos Estados.

‘Caciques’ locais influenciam em cidades pequenas

As cidades de menor porte possuem uma peculiaridade, avaliam os cientistas políticos: a presença de ‘caciques’ locais, personalidades de diversos setores que possuem influência e força política para decidir eleições nestes municípios.

Rosemary Segurado comenta que essas pessoas muito conhecidas “podem ser chaves nas eleições, acabam influenciando em uma eleição de forma mais significativa que o apoio de um grande político do país que declare seu voto”.

Estes ‘caciques’, observa Maurício Fronzaglia, frequentemente se apoderam de legendas de partidos, “algumas com as quais muitas vezes não têm qualquer compromisso ideológico”, para fazer valer seu poder de influência.

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