O presidente Jair Bolsonaro cancelou o encontro que teria com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, com desembarque previsto para hoje no Brasil. Bolsonaro se irritou quando soube que o líder português aproveitará a passagem por São Paulo, onde participará da Bienal do Livro, para conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera todas as pesquisas de intenção de votos para à Presidência da República.

Marcelo de Souza havia afirmado, no último dia 27, durante abertura da Conferência dos Oceanos, que, além do encontro com Bolsonaro e da participação em eventos comemorativos aos 200 anos da independência do Brasil, conversaria com dois ex-presidentes brasileiros: Lula e Michel Temer.

A viagem do presidente português ao Brasil tem como objetivo incrementar as relações entre os dois países. Do ponto de vista político, as relações bilaterais nunca estiveram tão distantes. Não há, por parte do governo brasileiro, movimentos claros e consistentes no sentido de estreitar os laços com os lusitanos. Bolsonaro é o único presidente brasileiro desde o regime democrático que não visitou Portugal. O desinteresse do Palácio do Planalto não passa despercebido na diplomacia portuguesa.

O momento para a viagem de Marcelo de Souza ao Brasil é singular. Neste ano, comemora-se o bicentenário da independência brasileira do país europeu. Tanto no Brasil quanto em Portugal, as comemorações envolvem grandes eventos, mesmo com o distanciamento do Palácio do Planalto. A meta, pelo menos do lado do governo português, é explicitar o quanto as relações com o Brasil são importantes.

Mais do que isso: há um fluxo enorme de brasileiros para o país europeu. E, desta vez, são os endinheirados que estão aportando do outro lado do Atlântico de olho nas boas condições de vida por lá, a começar pela segurança.

Os brasileiros são o maior grupo de estrangeiros vivendo em Portugal — um terço do total. Oficialmente, são quase 205 mil, mas se estima uma comunidade superior a 300 mil cidadãos.

O presidente português aproveitará a visita ao Brasil para se inteirar mais de perto da política, especialmente das eleições presidenciais marcadas para outubro. No governo português, ninguém se atreve, oficialmente, a prever os resultados da corrida ao Planalto. Mas, nos bastidores, a torcida é pela derrota de Bolsonaro.

Apesar disso, não haverá manifestações que possam causar constrangimentos. No governo brasileiro, a ordem é se concentrar no lado bom da história. Do ponto de vista do governo português, a determinação é para que a agenda de Marcelo de Souza seja propositiva.

Ex-presidente português, Aníbal Cavaco Silva diz que Brasil e Portugal têm muito a caminhar juntos. Mas é necessário disposição para superar divergências. “É preciso ultrapassar da questão de afeto, sentimental, para questões práticas, como a comercial”, emenda. Para ele, não é possível que o Brasil, a 12ª economia do planeta, responda por apenas 1% das exportações globais e seja apenas o 13º parceiro comercial de Portugal. “Falta complementariedade entre os dois países”, acredita.

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