Lisboa — As arquitetas Thayanna Botelho e Rebeca Bitencourt decidiram ampliar o quadro de pessoal da Nest, empresa que abriram em Portugal há pouco mais de dois anos. A demanda por projetos — foram mais de 40 nesse curto período — está tão grande, que o atual grupo de colaboradores, cinco, precisa ser reforçado rapidamente. As duas novas vagas deverão ser preenchidas, preferencialmente, por mulheres. Como as arquitetas, empresários brasileiros que decidiram fincar raízes do outro lado do Atlântico têm feito a diferença para manter aquecido o mercado de trabalho do país europeu. Mais que isso, vêm garantindo oportunidades a profissionais estrangeiros que decidiram viver em território luso.
Dados do Observatório das Migrações, do Alto Comissariado para as Migrações apontam que empresas controladas por brasileiros em Portugal se tornaram as principais empregadoras de imigrantes no país. Do total de contratações de estrangeiros, 26,7% são feitas por empresários oriundos do Brasil. Os chineses aparecem na segunda posição, garantindo 16% das vagas. O impacto desses empregos tem sido tão forte na economia portuguesa, que a taxa de desocupação está em 6,1%, o menor nível em duas décadas. Não só. Os trabalhadores estrangeiros se tornaram pilares para a sustentabilidade da Seguridade Social, a Previdência do país. No último ano, os imigrantes despejaram 1,2 bilhão de euros (R$ 6,6 bilhões) no caixa do sistema.
A participação de imigrantes no mercado de trabalho de Portugal será cada vez maior, acredita Jorge Fonseca, especializado em recolocação profissional de executivos com mais de 50 anos. Para ele, mesmo com uma economia pequena, o país lusitano, por questões demográficas, tem precisado cada vez mais de mão de obra. A população portuguesa envelheceu e já não consegue suprir as necessidades de setores básicos, como comércio, hotelaria e construção civil. Os brasileiros, pela facilidade da língua, ainda que a cultura seja diferente, têm aproveitado como ninguém as oportunidades, tanto do ponto de vista dos empreendedores, quanto daqueles que buscam empregos que possam lhes garantir uma vida melhor.
Fonseca acredita que, ao longo do tempo, a procura por profissionais estrangeiros mais qualificados vai se acentuar em Portugal. Os primeiros sinais são observados na área de tecnologia, uma vez que multinacionais estão instalando núcleos operacionais em várias regiões portuguesas. Ele ressalta que também estão chegando no país centros de serviços partilhados, como financeiro e de recursos humanos, além de startups e incubadoras de empresas. É nesses segmentos que ele procura recolocar trabalhadores seniores, que decidiram, depois de carreiras bem-sucedidas, dar um novo rumo à vida profissional.