O Brasil e Bélgica da última Copa do Mundo teve um treinador que procurou manter o padrão tático de sua equipe e um que reorganizou suas peças para surpreender o adversário desde o início. Quando o primeiro percebeu o que tinha acontecido, o segundo já celebrava uma vantagem que o colocaria nas semifinais.

Tite aprendeu com aquela derrota por 2 a 1 e com a sacada do técnico da Bélgica, Roberto Martínez. Um ano depois, deixou um pouco de lado a diretriz que vinha seguindo na seleção. Em vez de se apegar a um modelo sem maiores variáveis de acordo com o adversário, ajustou seu time para encarar a Argentina de Messi e avançou à final da Copa América com um triunfo por 2 a 0.

O amplo domínio da posse de bola nas partidas anteriores deu lugar a um jogo de muitos contra-ataques. De acordo com estatísticas da comissão técnica da seleção, a posse ficou em 50% a 50% no clássico da última terça-feira (2), no Mineirão. Claro, porque a Argentina era um rival mais qualificado do que os enfrentados antes, mas também por uma estratégia.

“Adaptação às características que o jogo te impõe”, resumiu Tite.

Houve dois principais ajustes promovidos pelo técnico. Um deles foi a mudança no posicionamento de alguns jogadores para que Messi ficasse encaixotado no meio-campo. O outro foi o uso dos pontas como armas de contragolpe, não propriamente de construção de jogadas nos moldes habituais da equipe.

Para frear o “extraterrestre”, como se referiu ao craque argentino, o técnico mexeu até na posição do próprio centroavante. Roberto Firmino passou a marcar recuado, mais perto de Philippe Coutinho, na tentativa de espremer o camisa 10 rival entre os volantes. Como Messi gosta de flutuar entre o centro e o lado direito, o lateral Alex Sandro também ganhou a incumbência de ajudar a apertá-lo.

“O centro do campo, com Firmino, Coutinho, Arthur, Casemiro, era essencial para não deixar o extraterrestre jogar”, disse o treinador, antes de explicar por que Alex Sandro se segurou na defesa e o Brasil atacou pouco pelo lado esquerdo -o direito do adversário.

“Se vocês olharem o mapa de calor do Messi, onde ele transita, vão ver que é sempre entre meio e ponta direita. E a gente teve ali um jogador que dava consistência para diminuir as ações dele”, disse o técnico. 

Criar empecilhos ao principal atleta alviceleste era só parte do plano. O camisa 10, diga-se, conseguiu se livrar do cerco em várias situações. A outra parte era “ter flechas dos lados”, jogadores prontos para aproveitar as brechas abertas pela marcação agressiva que a Argentina executava no campo de ataque.

“Tem que saber jogar construindo, tem que saber jogar em pressão média e tem que saber jogar em contra-ataque. Nessa partida, a exposição do adversário pelo tipo de marcação que fazia proporcionava muitas jogadas de velocidade. O segundo gol foi uma jogada de velocidade, de imposição, do Gabriel Jesus”, celebrou o técnico.

A história da partida poderia ter sido diferente. Os argentinos acertaram duas bolas na trave e reclamam muito do que consideram um pênalti não marcado em seu favor na origem da jogada do gol de Jesus. De qualquer maneira, Tite mostrou uma disposição de adaptação nem sempre presente em seu trabalho na seleção e agora pode conquistar seu primeiro título.

próximo artigoSujo ou não higiênico? Especialistas revelam onde a limpeza realmente importa
Artigo seguinteApós reforma padrão FIFA, elenco Cruzeirense volta a treinar no campo 3 da toca da Raposa 2